J. G. Bennett — The Dramatic Universe
Experiência é a dada totalidade. Dela somente podemos aprender, e devemos ouvir a que tem falar-nos. Descrevendo o que descobrimos, acostumamos a usas palavras tais como «eu», «nós», «vocês», e «o mundo», mas não devemos nos deixar ser enganados pelo costume de supôr que deve haver dados imediatos de experiência aos quais tais palavras correspondem. Elas podem provar em exame ser convenções às quais aderimos sem nos perguntar que sentido, se algum, têm para nós. De fato, refletimos seriamente, fazemos a descoberta que «eu», «nós», «vocês», e «o mundo» não são dados diretamente na experiência apesar de tudo. A criança, que não usa as palavras «eu» e «tu» e não conhece mundo mas sua experiência autêntica, está em contato mais próximo com a realidade do que nós.
A distinção entre as categorias de totalidade e polaridade levou à separação sujeito-objeto e à distinção que fazemos entre «eu» e «não-eu». Estas separações e distinções não são a experiência total, nem são aspectos primários dela. Assim reconhecendo estamos livres da necessidade de examinar muitas questões consideradas filosoficamente importantes.
Podemos relançar a antiga questão: «Do que é toda realidade feita?» sob a forma: «Do que é toda experiência feita?». Ordinariamente tendemos a imaginar que deve haver duas espécies deste algo correspondendo à distinção entre sujeito e objeto. Seguimos assim de perto a suposta distinção cartesiana de «substância pensante» e «substância extensa». Isto é como dizer que porque uma vara tem duas pontas, deve ser feita de duas substâncias, enquanto as pontas são apenas aspectos da vara que é una, unidade e reconciliação de aparente opostos, e assim pontas que não têm existência aparte da vara. O que é ou existe, a experiência ela própria.
Concluindo, qualquer exame da experiência deve nos convencer que há somente esse «algo» do qual tudo é feito. Podemos adotar o uso do termo hyle, segundo Aristóteles, para denotar o que G chama a «substância-cósmica-de-fonte-primordial». Hyle não é a base sem forma — to apeiron — dos pré-socráticos, mas substância capaz de receber forma e caráter (v. nama-rupa).