Basarab Nicolescu: Ensaio sobre Jacob Boehme
Se o ternário concerne a dinâmica íntima de todo sistema, o septenário é, em Jacob Boehme, o fundamento da manifestação de todo processo, em sua riqueza inesgotável. O septenário funciona em contínua interação com o ternário: é precisamente esta interação que fornece a chave de uma compreensão plena da Realidade, pelo menos na visão que nos é proposta por Jacob Boehme.
Para Boehme, «Deus é um deus da ordem… Nele há principalmente sete qualidades, pelas quais todo ser divino está em atividade. Ele se mostra indefinidamente nas sete qualidades, e no entanto estas sete qualidades estão no primeiro nível na infinidade: é por esta lei que a geração divina é eterna e imperturbavelmente em sua ordem».
Todo processo da Realidade será assim regido por sete qualidades, sete fontes-espíritos, sete etapas, sete formas.
Os nomes que Boehme atribui a estas sete qualidades são poéticos e altamente evocadores, mas podem parecer um pouco ingênuos ou estranhos para um leitor moderno: azedume, doçura, amargura, calor, amor, tom ou som, corpo. Mas o que nos interessa aqui não são os nomes, mas o sentido que Boehme lhes atribui no contexto do ciclo septenário.
Forçado pela língua natural, Boehme adota de imediato uma descrição linear, cronológica destas sete qualidades em seu encadeamento no ciclo septenário, mas sua compreensão passa por uma consideração simultânea de sua ação. As fontes-espíritos se engendram uma a outra, permanecendo distintas. De novo, só uma lógica da contradição pode nos oferecer o acesso à compreensão do septenário de Boehme.
As três primeiras qualidades procedem do primeiro princípio. O Deus do primeiro princípio é, para nós, um Deus impenetrável, inconhecível. Aparece-nos como um Deus das trevas, da noite terrificante, pois insondável. Não podemos nem mesmo verdadeiramente denominá-lo Deus.
Uma luta antagonista da mais alta intensidade se engaja entre as três primeiras qualidades para permitir a este Deus das trevas se conhecer potencialmente ele mesmo. A primeira qualidade vai corresponder assim a uma força negativa, de resistência, a um fogo frio, respondendo ao desejo de Deus das trevas de permanecer o que é, independente de toda manifestação. A segunda qualidade vai corresponder a uma força positiva, fluida, tendendo à manifestação e logo radicalmente oposta à primeira qualidade: ela é como um «picador furioso». Enfim, a terceira qualidade aparece como uma força conciliadora sem a qual nenhuma abertura para a manifestação será possível. O deus do primeiro princípio vai se engajar assim em uma luta gigantesca com ele mesmo. Berdiaeff fala com razão de uma «tragédia divina» no mistério da criação. Trata-se simplesmente da morte de Deus a si mesmo enquanto Deus da pura transcendência: «O Deus de Boehme morre antes de nascer» (Pierre Deghaye).
A luta sem trégua entre as três primeiras qualidades engendra uma verdadeira «roda da angústia». O mundo da primeira tríade do septenário é um «vale tenebroso», um inferno virtual. Boehme fala de um «parto angustiante, assustador, estremecedor, acre e em oposição». Algo deve se passar para permitir a este «parto», a passagem à vida, à manifestação.
É precisamente este ponto, quando a roda da angústia gira loucamente sobre ela mesma, em turbilhão caótico, infernal, que um princípio de descontinuidade deve se manifestar, para abrir a via do verdadeiro movimento evolutivo. Este princípio de descontinuidade não é outro senão o terceiro princípio, que aparece como o Fiat da manifestação, o verbo criador de Deus. Boehme chama esta descontinuidade o «relâmpago»: «Todos os sete espíritos, sem o relâmpago seriam um vale tenebroso…». O movimento louco da roda da angústia se detém para se transformar no movimento harmonioso. É agora que a vida pode nascer, que Deus nasce. O Fiat da manifestação, engendrado pelo terceiro princípio, faz parte integrante (mesmo se é virtual, pois corresponde a uma descontinuidade invisível sobre o plano da manifestação) da segunda tríade do clico septenário, compreendendo igualmente a quarta e a quinta qualidade: «Agora estes quatro espíritos ou estas quatro qualidades se movem na relâmpago. Pois estão vivos todos os quatro. Ora o poder destes quatro se eleva no relâmpago, como uma vida, que está em seu primeiro grau de ascensão; e o poder que se elevou no relâmpago é o amor. Eis aí o quinto espírito. Este poder ferve com delícias no relâmpago, como se um espírito morto se tornasse vivo, e fosse posto subitamente em uma grande claridade». O fato que a quarta e o quinta qualidade são intimamente ligadas ao relâmpago, e portanto ao terceiro princípio, é aqui claramente afirmada.
O fogo frio da primeira tríade se transforma assim no fogo quente de onde pode brotar a luz: «A quarta propriedade desempenha assim o papel de placa giratória ou de pivô de transmutação de todo o sistema…» — escreve Jean-François Marquet. Seremos mais tentados a dizer que esta placa giratória se situa no intervalo entre a terceira e a quarta qualidade, pois é aí que age o Fiat da vida, da manifestação.
Mas «nascimento» não quer dizer manifestação plena da luz. Com a segunda tríade, Deus nasce, toma consciência dele mesmo, mas não se manifesta ainda plenamente. Um segundo princípio de descontinuidade deve intervir para que o movimento evolutivo possa prosseguir. O Fiat de afirmação, de luz plenamente revelada, o Fiat celeste é necessariamente a ação do segundo princípio. «O segundo Fiat se situa no quinto grau» — afirma com justeza Pierre Deghaye. Mais precisamente encontra-se no intervalo entre a quinta e a sexta qualidade.
A intervenção do segundo princípio engendra uma nova tríade da manifestação (tríade, pois cada princípio deve se submeter a sua própria estrutura ternária). Esta última tríade é composta de três elementos: um elemento virtual (a descontinuidade engendrada pelo segundo princípio) e duas qualidades: «o tom» ou «o som» e «o corpo».
A sexta qualidade é aquela da alegria celeste, como um som de alegria que atravessa toda a manifestação: «O sexto engendramento em Deus, tem lugar quando os espíritos se saboreiam assim uns aos outros em sua geração…; … é por aí e nisso que a alegria ascendente se engendra, e daí o resulta o tom. Pois é do tocar e da mobilidade que o espírito vivo se engendra, e este mesmo espírito porque através de todo os engendramentos; ele penetra suavemente, agradavelmente como uma deliciosa música, e quando o engendramento se opera, apreende a luz, e a pronuncia de novo na geração, por meio do espírito em movimento. É ao nível da sexta qualidade que Boehme situa a linguagem, o «discernimento», a «beleza».
Quanto a sétima qualidade, ela corresponde à manifestação plena, ao «corpo» de Deus, que não é outro senão a natureza ela mesma: «Ora, a sétima forma, ou o sétimo espírito na potência divina é a natureza, ou a expansão fora de seis outros… Este sétimo espírito é o corpo de todos os espíritos, no qual estes se engendram como em corporização. Também é deste espírito que todas as configurações e todas as formas tomam seu caráter…». O sétimo espírito «guarda os seis outros, e os engendra por sua vez; pois o ser corporal e o natural existe no sétimo». O círculo se fecha: a sétima qualidade junta-se à primeira, mas em outro plano, aquele da manifestação. A linha se metamorfoseia em círculo: paradoxalmente, na filosofia de Jacob Boehme, o Filho dá nascimento ao Pai.