Bennett: THE DRAMATIC UNIVERSE
Para onde quer que voltemos nossa atenção encontramos algo sucedendo; e, além do mais, sucedendo de uma maneira ordenada e reconhecível, e estas regularidades — ou seja, as características observáveis — são temas reais ou potenciais de nosso conhecimento. O que conhecemos desta maneira pode ser chamado «processo». Tão universal e inescapável é o processo que podemos ser tentados a dizer que é o conteúdo de toda experiência possível, e mesmo chegar a identificá-lo com a «realidade», ou a totalidade de tudo que é.
Podemos definir o termo função como «o elemento conhecível na experiência». Isto significa que função tem certas diferenciações que não estão implicadas na palavra «processo». As funções são os comportamentos dos todos. Os todos estão relacionados um com outro, e os conhecemos porque podemos reconhecer estruturas ou padrões de função. O passo da experiência do processo ao conhecimento da função é feito por meio das categorias. A fim de pensar sobre nossa experiência, devemos usar as categorias. Elas capacitam-nos a dar o passo de nossa senciência do processo ao conhecimento das regularidades funcionais. Não há processo universal constantemente realizando a si mesmo. Através de nossa senciência experimentamos este processo de dentro, e através de nossas percepções dos sentidos experimentamos ele de fora. Tudo que conhecemos desta maneira é função. A função sempre tem o mesmo caráter onde quer e quando quer que a encontremos. Pode ser a função de minha mente na qual os pensamentos estão fluindo, ou pode ser aquela de um relógio que registra a passagem do tempo. As funções são, entretanto, algo maior que a mera atividade. Elas são comportamento; ou seja, o trabalho de algum mecanismo. Em toda referência à função alguma consideração de tempo e espaço está implícita. A função tem este caráter de efetuação, e portanto somos capazes de ir além das limitações de nossa experiência humana e da uma definição estendida dela como «toda realidade efetuando a si mesma através de suas diversas partes». Assim toda descrição de qualquer espécie é funcional.
O HOMEM INTERIOR
A função não é apenas a existência física ou o mundo mais baixo. Há funções muito elevadas, como as que as estrelas realizam; mas, para compreender o que são, teríamos que nos colocar no lugar da vontade que se utiliza das estrelas como instrumento. O mundo das funções é o mundo dos instrumentos de todas as espécies-grandes ou pequenos, elevados ou inferiores, duráveis ou efêmeros. Tudo serve para alguma coisa; tudo é utilizado; tudo é um instrumento. A ciência é o estudo das funções, mas é bem possível que ela mal tenha começado a compreender a sua esfera de ação e alcance. Mostra-se inclinada a restringir-se às coisas que os homens podem manipular, quer diretamente, quer através do cálculo. Nas suas manobras, ela está reproduzindo a atividade do mundo; mas têm-se iludido com a ideia absurda de que só as suas próprias manipulações são dirigidas pela inteligência e vontade. A atividade científica faz parte do mundo das funções e não há nenhuma razão para admitir que possa haver uma função especial dirigida por leis que não se apliquem em toda parte.
Quando a consciência e a vontade são mínimas, o mundo das funções se converte em mecanismo. Essa é a condição do homem que não trabalho sobre si mesmo – trabalha sobre si, cuja vida interior nada mais é do que um sonho e cuja vontade é cega e desconexa. Ele pode continuar agindo por inércia até que sobrevenha a morte física, momento em que a sua aventura começa a desagregar-se até que ele desapareça para sempre.