Ente Tricerebral

GURDJIEFF TERMOS — ENTE TRICEREBRAL

VIDE: CENTROS DO HOMEM, ENQUANTO ENTE TRI-CEREBRAL

É importante notar a relevância que G dá à palavra e verbo ser em seus escritos, usando muitas vezes o qualificador “esseral” na referência ao pertinente ao ser humano, como algo ontológico e originário de um ente-de-três-cérebros (“ente tri-cerebral”, tradução aproximada de philo:three-brained), ou ente-de-três-centros (ente tri-cêntrico, tradução aproximada de philo:three-centered). Nestas expressões preferimos traduzir por “ente” (being em inglês) pela conotação original do on grego que significa um “sendo” que guarda ao mesmo tempo a noção de substantivo e de verbo “(ser)”. Como só temos as traduções e não o original em russo e armênio, fica em aberto se esta é a melhor escolha. No entanto, a advertência de Heidegger da importante “filo:diferença ontológica”, entre ser e ente, que se perdeu no “filo:esquecimento do ser”, além da interpretação que temos do ensinamento de G, nos leva a optar por traduzir “being” por “filo:ente”. Guardamos em vista, nesta tradução, a ressonância de um substantivo e de um verbo, de algo que se manifesta, “sendo”, por, sobre, através de três cérebros, ou três centros, que justamente assim o possibilita “ser” à imagem e semelhança de Deus (Megalocosmo), como G lembra no Relatos de Belzebu, capítulo 39 (p. 775-777).

A VARIEDADE DE ACORDO COM A LEI DAS MANIFESTAÇÕES DA INDIVIDUALIDADE HUMANA

A individualidade integral de todo homem — de acordo com leis e condições do processo de vida das pessoas que se estabeleceram desde o início e gradualmente se tornaram fixos sobre a Terra — de qualquer hereditariedade que seja o resultado, e de qualquer que sejam as condições de entorno acidental no qual surgiu e desenvolveu, já deve no início de sua vida responsável — como uma condição de responder em realidade ao senso e pré-desígnio de sua existência como um homem e não meramente como um animal — consistir indispensavelmente de quatro distintas personalidades definidas.

A primeira destas quatro personalidades independentes é nada outro que a totalidade daquele funcionamento automático que é próprio ao homem assim como a todos os animais, dados para os quais são compostos neles primeiramente da soma total dos resultados de impressões previamente recebidas de toda a realidade ao redor assim como de tudo intencional e artificialmente implantado neles de fora, e, secundariamente, do resultado do processo também inerente em todo animal chamado “sonhar acordado”. E esta totalidade de funcionamento automático as pessoas ignorantemente denominam “consciência”, ou, melhor, “mentação”.

A segunda das quatro personalidade, funcionando na maioria dos casos independentemente da primeira, consiste da soma dos resultados dos dados depositados e fixados, que foram percebidos pela presença comum de todo animal através de seus seis órgãos chamados “receptores-das-variadas-vibrações-qualificadas”, órgãos que funcionam de acordo com novas impressões recebidas e a sensitividade que depende da hereditariedade transmitida e das condições da formação preparatória do dado indivíduo para existência responsável.

A terceira parte independente do ente integral é a função primal de seu organismo assim como o que é chamado manifestações-motoras-reflexas-reciprocamente-afetantes-procedentes-nele, e a qualidade destas manifestações depende daqueles já mencionados resultados da hereditariedade e das circunstâncias durante sua formação preparatória.

E a quarta, que deveria também ser uma parte separada do indivíduo integral, não é outra senão a manifestação da totalidade dos resultados do já automatizado funcionamento de todas as três personalidades separadamente formadas e independentemente educadas nele, ou seja, é aquela parte que é chamada, em um ente, “eu”.

Na presença comum de um homem, e para a espiritualização e manifestação de cada uma das três enumeradas partes formadas separadamente de sua inteira integralidade, há uma independente, como é chamada, “localização-centro-de-gravidade”; e cada uma destas localizações-centro-de-gravidade, cada uma com seu próprio sistema completo, tem, para sua atualização geral, suas próprias peculiaridades e predisposições inerentes nela somente. Em consequência disto, a fim de tornar possível o aperfeiçoamento completo de um homem, uma especial e correspondente educação correta é indispensável necessariamente para cada uma destas três partes, e não um tal tratamento como é dado nos dias de hoje e também chamado “educação”.

Só então pode o “eu” que deveria ser em um homem, ser seu próprio “eu”.


Bennett: O HOMEM INTERIOR

É no mundo das funções que se diz que o homem tem ‘três cérebros’. Há as atividades próprias do intelecto, do sentimento e do movimento do corpo. Isso o distingue dos vertebrados ou animais bicerebrais, que apenas sentem e se movimentam, e dos invertebrados ou animais unicerebrais, que nem sentem nem pensam. Gurdjieff descrevia constantemente o homem como um ente tricerebral, mas sempre em relação ao mundo das funções. Significa, muito simplesmente, que ele tem um corpo e, na medula espinhal, um cérebro relacionado com ele; que tem uma capacidade de pensar e, na cabeça, um cérebro relacionado com ela, e que tem sentimentos e, nos gânglios nervosos do sistema simpático, um cérebro ligado a eles. Cada um desses cérebros permite que ele se relacione, de diferentes maneiras, com o mundo, embora seja ainda o mesmo mundo cognoscível. Quando eles estão reunidos de maneira harmoniosa, o homem converte-se numa força extraordinária dentro do mundo; mas os cérebros são instrumentos das funções e não o que o homem é.

Os cérebros do homem podem estar localizados no seu corpo físico e ligados ao seu funcionamento fisiológico. São, contudo, parte essencial da sua experiência psicológica pessoal.



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