Roy Finch (Dossiers H) – cosmos sagrado (1)

Em primeiro lugar [para Gurdjieff] — e de forma abrangente — está a faculdade de ver o cosmo e tudo o que está incluído nele. Uma faculdade que entende a sensação, a emoção e o pensamento como parte de uma única Matéria Universal, um único Pleroma que se manifesta nos diferentes níveis de uma vasta escala. Desde o relâmpago de uma partícula, a vida fugaz de um mosquito ou a sensação momentânea de um ser humano, até as longas vidas de sóis, estrelas e galáxias, todos fazem parte de uma Totalidade Única.

No centro, imóvel, está o Sol Absoluto ou Pai Sol, tanto energia quanto espírito, “Sua Eternidade”, como Gurdjieff o chama. Ele está, de fato, muito distante do homem, que precisa lidar com Seus intermediários, mas não é ameaçador, nem terrível, nem vindigativo, nem vingador. A maneira pela qual a perspectiva de Gurdjieff unifica e integra todas as coisas fica evidente se considerarmos brevemente sua noção dos três tipos de “alimento cósmico”:

1. a nutrição comum — “comer e ser comido” — pela qual todos os seres vivos se nutrem mutuamente;

2. o ar inspirado e expirado por plantas, animais e seres humanos, toda a biosfera formando um único e vasto ciclo de respiração;

3. a gama de energias radiantes ou de “luz-alimento”, desde as que afetam as plantas e os animais até as necessárias para os seres humanos pensantes.

Esses são exemplos da dependência recíproca de todas as coisas em todas as coisas, que é tão importante no pensamento budista — embora o Sol Absoluto possa ser considerado mais um dado gnóstico do que budista.

De acordo com o mito de Gurdjieff, as criaturas terrestres estão sujeitas ou às forças gravitacionais da Lua, que age sobre os fluidos de todos os corpos de tal forma que se pode dizer que a Lua “come” as “energias inferiores”, ou às radiações nascidas do Sol, que nos seres humanos correspondem às energias mais conscientes. Nossa missão humana é nos tornarmos seres solares em vez de lunares, o que significa “brilhar” por meio de nossa própria atenção consciente, criando assim a “matéria da alma” que, como acreditavam os gnósticos, não perece quando o corpo físico morre.

[Dossiers H]

Outras páginas do capítulo