IMPULSOS-ESSERAIS — COMPLETA SENSAÇÃO DO TODO DE SI MESMO
Para que o legítimo proprietário do ente-coche seja seu permanente passageiro, é necessário segundo G, se atentar para sete fatores psíquicos ou impulsos. Desses impulsos, G descreve apenas três, mas um desses três é aquele considerado mais importante:
Este impulso, próprio exclusivamente ao homem, pode ser definido na linguagem somente descritiva, ou seja, com muitas palavras. Definiria ele por enquanto nas seguintes palavras: «a completa sensação do todo de si mesmo».
Este terceiro impulso, que deveria estar algumas vezes no estado de vigília do homem,… é de todos os sete impulsos exclusivamente-próprios-ao-homem o mais importante, porque sua associação com os dois primeiros, a saber, aqueles já falei que podem aproximadamente ser expressos pelas palavras «poder» e «querer», quase compõe e representa o genuíno Eu do homem que alcançou a idade responsável. (QUANDO SOU)
A importância da «completa sensação do todo de si mesmo» na teoria e prática de G é explícita nesta explicação. Mas para ainda se ter mais confirmação desta interpretação, eis o primeiro parágrafo desta obra citada:
Sou…? Mas o que veio a ser daquela sensação-completa do todo de mim mesmo, anteriormente sempre em mim em tais casos de auto-questionamento durante o processo de lembrança de si…
É possível que esta habilidade foi alcançada graças a todas as espécies de auto-negação e frequente auto-incitação somente a fim de que agora, quando esta influência para meu Ser é mais necessária até mesmo que o ar, ela deva desparecer sem um traço?
O questionamento, tom de desespero desta passagem é explicado pela reivindicação de G que isto era parte de um «auto-raciocínio que procedia em mim durante um quase delirante estado». Como queira , esta passagem e também a parte conclusiva do auto-raciocínio não citada aqui indicam a significância da «sensação-completa do todo de mim mesmo» para a afirmação «Sou» que aparece no próprio título dessa obra.
A significação que G aplica à sensação do todo de si mesmo, uma habilidade que pode ser obtida somente por trabalho duro, é aparente. Mas qual é a fonte desta experiência? G responde esta questão indiretamente na Segunda Série de seus escritos quando descreve um incidente de sua juventude que teve lugar num campo de tiro de artilharia:
Do que experimentei e senti, enquanto os obuses começavam a voar e a explodir sobre a minha cabeça, lembro-me até hoje como se tivesse sido ontem.
De início, fiquei totalmente atordoado; logo, porém, a intensidade das emoções que afluíam dentro de mim e o poder de confrontação lógica de meu pensamento aumentaram a tal ponto, que a cada instante tinha a impressão de estar pensando e vivendo mais que durante um ano inteiro.
Ao mesmo tempo, experimentava pela primeira vez uma sensação completa de mim mesmo, que crescia sem cessar, enquanto percebia claramente que, devido à minha leviandade, tinha-me colocado, nesse dia, numa situação onde tinha toda chance de ser aniquilado, pois, nesse momento, minha morte parecia-me certa.
Um medo instintivo diante do inevitável se apossou de todo o meu ser, a ponto de a realidade que me rodeava figurar-se-me desaparecer, deixando subsistir apenas esse invencível terror animal. (EHN)
A sensação do todo de si mesmo é claramente uma experiência que envolve níveis profundos de um ente. Mas esta passagem é designada para expressar muito mais do que isto por meio de alusões a RBN.