G.I. Gurdjieff e o Quarto Caminho
Em um site dedicado ao pensamento tradicionalista ou perenialista, reconhecendo em René Guénon e Frithjof Schuon seus principais epígonos no século passado, parece estranho para aqueles que pretensamente seguem estes mestres da Tradição, e seus discípulos mais imediatos, falar de Gurdjieff e do Quarto Caminho. De fato, o Sr. Gurdjieff, como era conhecido, que não queria outra qualificação que não fosse “mestre de dança”, é objeto de algumas críticas contundentes, e personagem de algumas estórias escabrosas. Diga-se de passagem sina de muitos mestres espirituais conhecidos nos últimos dois séculos (até mesmo o próprio Frithjof Schuon).
Se buscarmos o que Guénon ou Schuon falaram de seu contemporâneo Gurdjieff, cuja atuação em Paris, New York e London, nas décadas de 1920-1940, foi muito conhecida, reunindo muitos nomes importantes da “elite intelectual” europeia e americana, nos surpreendemos por não encontrar nada em seus escritos oficiais publicados. O que “se ouve falar”, aqui e ali, em citações de pretensos seguidores poderia se considerar um anedotário ainda assim muito escasso. Fica a pergunta, porque estes “fundadores” do perenialismo no século XX, especialmente Guénon que nunca conteve sua crítica voraz e rigorosa aos pretensos espiritualismos e espiritualistas de seu tempo e anteriores, nada registrou em seus inúmeros escritos e resenhas, sobre Gurdjieff.
Julius Evola, tradicionalista italiano, sem manter qualquer “filiação” a Guénon, mas guardando um estreito contato com o mesmo, nos legou um pequeno ensaio sobre Gurdjieff (Monsieur Gurdjieff), publicado em seus “Últimos Escritos” (obra póstuma). Neste breve ensaio Evola apresenta resumidamente o Sr. Gurdjieff e seu Trabalho, não tecendo qualquer comentário crítico, muito pelo contrário, de forma respeitosa acatando algo para ele notável.
No entanto, alguns seguidores do tradicionalismo de Guénon (especialmente deste, como Whitall Perry), fizeram críticas severas, além de relatarem falas ocasionais onde estes perenialistas teriam feito duras acusações a Gurdjieff e seu Trabalho. Do mesmo modo que muitos daqueles que se aproximaram de Gurdjieff, acompanhando temporariamente seu Trabalho, também tenham deixado alguns testemunhos denegrindo o homem Gurdjieff.
A verdade sobre Gurdjieff, assim como sobre qualquer caminhante que tenha se empenhado em ir além de sua própria peregrinação, trilhando o difícil papel de arauto, de mestre e de epígono de um trabalho espiritual neste mundo, será sempre muito difícil de se apresentar de forma clara e bem definida, pela própria natureza humana implicada seja na possibilidade de revelação e seja na de interpretação da verdade.
Gurdjieff, o homem notável, porém criticável em certos atos, aportou ao Ocidente um “conhecimento desconhecido”, para alguns de seus discípulos, como Ouspensky, sob a forma de fragmentos que vislumbram a realidade sob perspectivas nunca dantes apreciadas. Compete ao buscador desvendar este “conhecimento desconhecido”, esta gnose, em seu próprio poder escatológico, como o gnosticismo dos primeiros séculos do cristianismo.