Gurdjieff — RELATOS DE BELZEBU A SEU NETO
– É muito interessante assinalar que, na entrada principal dessa enorme cerca, haviam erigido uma estátua de pedra bastante grande — grande, naturalmente, em relação ao tamanho da presença geral deles — a que chamavam “Esfinge” e que me lembrava muito uma estátua que vira em minha primeira descida pessoal a seu planeta, na cidade de Samlios, bem em frente ao imenso edifício da erudita sociedade dos Akhldaneses, então designado pelo nome de “catedral principal” dessa sociedade.
Essa estátua que tanto me interessara na cidade de Samlios era o emblema da sociedade e tinha o nome de “Consciência”.
Representava um ser alegórico, isto é, um ser cujo corpo planetário era formado pelas diversas partes dos corpos planetários de tais ou quais seres de determinada forma existentes na Terra, cada um dos quais realizava, segundo as concepções cristalizadas nos entes tricerebrais de lá, o ideal de um ou outro dos funcionamentos esserais.
A massa principal do corpo planetário desse ser alegórico era representada pelo “torso” de determinada forma de ser de lá, chamado “touro”.
Esse “torso” de touro descansava sobre as quatro patas de outro ser, de forma igualmente bem determinada, chamado “leão”; e na parte do torso do touro chamada “costas” estavam fixadas duas grandes asas, exatamente iguais às de um poderoso ser-pássaro que chamam de “águia”.
No lugar onde deveria estar a cabeça prendiam-se ao tronco, por um pedaço de “âmbar”, dois seios representando os “seios de uma virgem”.
Muito interessado por essa estranha figura alegórica, perguntei qual a sua significação, ao que um dos sábios membros dessa grande sociedade de seres-homens deu-me as seguintes explicações:
– Esta estátua é o símbolo da sociedade dos Akhldaneses e serve a todos os membros como estimulante para despertar neles e fazer-lhes recordar continuamente os impulsos correspondentes àqueles que deve representar.
Prosseguiu depois:
– Cada parte desta figura alegórica provoca, nas três partes independentemente associativas da presença geral deles, isto é, no corpo, no pensamento e no sentimento, um choque que determina associações apropriadas aos distintos conhecimentos, os únicos que permitem, em seu conjunto, que nos livremos gradualmente dos fatores indesejáveis que se encontram em cada um de nós — fatores transmitidos por hereditariedade ou por nós mesmos adquiridos, e que, ao suscitar em nós pouco a pouco impulsos nefastos, são a causa de não sermos o que poderíamos ser.
– Esta esfinge mostra e nos faz lembrar incessantemente que só podemos chegar a nos libertar de tais fatores obrigando sem descanso nossa presença geral a sempre pensar, sentir e agir, nas devidas circunstâncias, de acordo com o que este símbolo está encarregado de expressar.
– E todos nós, membros da sociedade dos Akhldaneses, compreendemos nosso emblema da seguinte maneira:
– O tronco deste ser alegórico, representado pelo torso de um touro, significa que os fatores cristalizados em nós e que suscitam em nossa presença impulsos funestos, tanto hereditários como pessoalmente adquiridos, só podem ser regenerados através de um trabalho árduo, semelhante àquele que o “touro”, entre todos os seres de nosso planeta, é particularmente apto.
– O fato de o torso estar fixado sobre as patas de um “leão” significa que tal trabalho deve ser feito com a consciência e o sentimento de audácia e de fé em seu próprio “poder”, sendo o poder a propriedade que possui no mais alto grau, entre todos os seres do planeta, o dono dessas patas — o poderoso leão.
– E as asas do mais forte dos pássaros, daquele que voa mais alto, a “águia”, fixadas no torso do touro, lembram constantemente aos membros de nossa sociedade que, em tal trabalho e na atividade interior dessas propriedades psíquicas de apreciação de si mesmo, é necessário meditar sem trégua sobre as questões que não se referem às manifestações diretamente requeridas para a existência esseral ordinária.
– Quanto à estranha imagem da cabeça de nosso ser alegórico, representada sob a forma desses “seios de virgem”, significa que sempre e em tudo, nos diversos funcionamentos, tanto interiores como exteriores, provocados por nossa própria consciência, deve predominar o “amor”, este amor que só pode surgir e se manter dentro da presença das concentrações que se constituem nas partes conformes às leis de todo ser integral responsável em quem reside a esperança de Nosso Pai Comum.
– E o fato de esta cabeça estar fixada ao torso do touro pelo âmbar significa que este amor deve ser absolutamente imparcial, isto é, perfeitamente isolado de todas as demais funções que se efetuam na presença geral de todo ser responsável”.
Para que a significação deste último emblema, ligado à matéria chamada “âmbar”, seja-lhe inteiramente compreensível, saiba, meu filho, que o âmbar é uma das sete formações planetárias em cuja constituição entram, em igual proporção, as três partes sagradas, distintas e independentes do elemento ativo Okidanokh onipresente, e que essas formações intra e supraplanetárias servem, no processo de realização planetária, de “represas” para os três fluxos separados dessas três partes santas independentemente localizadas.