Magos negros [OFED]

Ouspensky: FRAGMENTOS [OFED]

“Perguntaram-me muitas vezes em que consistia a “magia negra”; respondi que não há magia vermelha, nem verde, nem amarela. Há a mecânica, isto é, “o que acontece” e há “fazer”. O “fazer” é mágico e só há uma espécie de “fazer”. Não podem existir duas. Mas pode haver uma falsificação, uma imitação exterior das aparências do “fazer”, que não poderia dar nenhum resultado objetivo, mas pode enganar as pessoas ingênuas e suscitar nelas a , a paixão, o entusiasmo e até o fanatismo.

“Eis por que, no verdadeiro trabalho, isto é, no verdadeiro “fazer”, não é mais possível paixão alguma. 0 que chamam magia negra funda-se na paixão cega e na possibilidade de explorar as fraquezas humanas. A magia negra não significa, de modo algum, uma magia do mal. Já lhes disse antes que ninguém faz nunca coisa alguma por amor ao mal ou no interesse do mal. Cada um faz sempre tudo no interesse do bem tal como o compreende. Da mesma maneira, é completamente errôneo afirmar que a magia negra é necessariamente egoísta, que na magia negra um homem forçosamente visa obter resultados para si mesmo. Nada mais falso. A magia negra pode ser muito altruísta, pode pretender o bem da humanidade, pode propor-se salvar a humanidade de males reais ou imaginários. Não, o que merece ser chamado magia negra tem sempre caráter definido. Esse caráter é a tendência a utilizar as pessoas para algum fim, mesmo o melhor, sem que elas o saibam e sem que o compreendam, quer suscitando nelas a e a paixão, quer agindo sobre elas através do medo.

“A esse respeito, entretanto, é preciso lembrar que um “mago negro”, bom ou mau, teve que passar por uma escola. Aprendeu algo, ouviu falar de algo, sabe algo. É simplesmente “um homem semi-educado”, que foi expulso da escola ou então deixou-a, tendo determinado que já sabia o suficiente, que se recusava a permanecer — por mais tempo sob qualquer tutela, que podia trabalhar por sua própria conta e até dirigir o trabalho dos outros. Qualquer trabalho dessa espécie só pode dar resultados subjetivos, isto é, só pode desiludir cada vez mais e favorecer o sono em vez de diminuí-lo. Pode-se, entretanto, aprender, alguma coisa de um “mago negro” — embora de modo errado. Pode até acontecer que, por acidente, ele diga a verdade. É por isto que digo que há coisas bem piores que a “magia negra”. Por exemplo, todas as espécies de sociedades “espíritas”, “teosóficas”, e outros grupos “ocultistas”. Não só seus mestres nunca estiveram numa escola, mas jamais encontraram mesmo alguém que tivesse estado em contato com uma escola. Seu trabalho é apenas macaqueação. Mas um trabalho imitativo dessa espécie produz uma satisfação de si muito grande. Um homem toma a si mesmo por “mestre”, os outros tomam-se por “discípulos” e todo mundo fica contente. Dessa maneira, não se pode chegar de modo algum a ver claramente sua própria nulidade e, se alguns afirmam que chegaram a esse resultado, só se iludem ou enganam a si mesmos, se tal afirmação não for pura mentira. Assim, bem longe de ver sua própria nulidade, os membros de tais círculos dão-se conta de sua própria importância e inflam sua falsa personalidade.

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