Michel Conge: No caminho da oitava do homem

Extraído do livro “Sur Le Chemin De L’Octave De L’Homme” — Testemunho de um aluno de G.I. Gurdjieff, escrito por Michel Conge. Este nasceu em Pau, sudoeste da França em 1912. Cedo decidiu devotar-se à “procura do real atrás das aparências”. Sua questão levou-o primeiramente à medicina. Enquanto trabalhava como médico biólogo no Instituto Pasteur em Paris em janeiro de 1944, encontrou o escritor René Daumal que o introduziu a Madame de Salzmann. Pouco tempo depois, ela o convida a trabalhar diretamente com Sr. Gurdjieff, tendo sido aluno do mesmo de 1944 a 1949. Desde 1949, encorajado pelo Sr. Gurdjieff e Madame de Salzmann, Dr. Conge reuniu em torno de si e de sua esposa, Gilles, um núcleo de homens e de mulheres cuja busca ele acompanhou e dirigiu até sua morte em 1984. O texto aqui apresentado foi extraído de uma reunião de grupo realizada em Reims em 19 de fevereiro de 1962. Encontrado na Internet sem referência ao tradutor.

O Caminho

É preciso conhecer o caminho; e conhecer o caminho é conhecer sua necessidade. Minha necessidade é conhecer que EU SOU. E EU SOU é conhecer que EU ESTOU ATENTO.

Se eu posso sempre, continuamente, evocar isso, sem o qual essa lembrança vai morrer, morte inevitável, se eu posso evocar isso em mim, eu compreenderei meu caminho, eu compreenderei aquilo que não pode me enganar e que um dia, apesar de todas as provocações da vida, eu não poderei mais esquecer.

Não considerem a atenção como um artifício, como alguma coisa que se pode manipular, que se pode pegar ou largar. Tudo aquilo que vive em mim tem a possibilidade de ser experimentado em diversos níveis: EU ESTOU ATENTO.

EU ESTOU ATENTO significa dizer EU SOU, é o Eu, e esse Eu é a necessidade, aquilo que eu procuro avidamente num movimento unicamente voltado ao exterior. Não é loucura procurar exteriormente, o que é loucura é procurar, unicamente, no exterior. Na realidade, aquilo que eu busco no exterior, eu deveria procurar em mim tudo que possa ativá-la (a atenção) em minha vida. Trata-se de uma coisa completamente diferente. Isso não renegará a expressão e a manifestação, mas lhe dará, então, seu verdadeiro caráter.

Tratem de compreender bem. Libertem-se de toda teoria, de toda maneira de proceder, cada palavra que eu pronunciei é bem mais direta! Façam como se vocês não soubessem nada. É verdade, eu não trabalhei, eu não compreendi e, no fim, estamos todos aqui.

EU ESTOU ATENTO. Vocês irão para uma tarefa, dentro de um movimento, ou melhor, na corrente de um dia ativo, vocês darão a si mesmos um instante de observação: EU ESTOU ATENTO. Não são os atos em si que são o essencial; o essencial é o espírito que passa através de todas as coisas. Eu não sei como lhes dizer de outra forma. É um gesto tão natural!

EU ESTOU ATENTO. De repente, EU SOU soa muito forte. Eu fico mesmo surpreso: EU SOU! Eu não me deixo arrastar por um desejo perigoso de saber mais, desejo esse que me perderá. Eu coloco, ao contrário, toda minha confiança numa nota que vibra mais claramente e mais plenamente: EU ESTOU ATENTO. Agora, tudo que eu acreditava compreender — pelo meu intelecto, por exemplo — e que me teria desviado, eu conhecerei diretamente, e a cada vez que eu retorne a este ato, eu o conhecerei melhor e saberei sem desvios e sem complicações que é a minha necessidade, é a necessidade de todos os níveis de meu ser — do mais profundo ao mais artificial.

“A necessidade do meu ser” (é quase um jogo de palavras!), é SER. Mas não de ser lá ou aqui, ser de uma maneira total. E a atenção é como o fio que passa através de todos os níveis. E é: EU ESTOU ATENTO.

Vocês precisam de mais? Olhem bem! Viver bem isso, a partir daí tudo se ordena; tudo, absolutamente tudo! Tudo ganha um sentido e tudo é renovado. Uma vida infinita, que não é limitada nem pelo espaço nem pelo tempo. Não se pode pedir mais.

Vivam-na!

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