Random (Dedans:185-186) – Mme de Salzmann e Luc Dietrich (3)

A Sra. de Salzmann nos disse muitas vezes que o estado de sono é um estado em que não vemos nenhuma das possibilidades do momento, que um homem está tanto mais desperto quanto mais vê as possibilidades que cada momento oferece. Um estado de sono não é necessariamente um estado de desespero; podemos nos sentir muito bem em uma prisão, em um túmulo. Mas um estado de desespero é necessariamente um estado de sono. Portanto, podemos estabelecer esta regra:

1. Um homem não vale nada se for levado ao desespero.

2. Mas um homem que não vale nada não tem chance de sair dessa situação, de alcançar o ser — somente na medida em que ele é acessível ao desespero, que é como uma força, a última, mas suficiente para garantir que o estado de desespero nunca seja desespero.

O que nos impede de fazer o melhor uso da energia do desespero são as falsas esperanças, as esperanças inatingíveis, as mais belas no sentido secular ou imbecil da palavra. A esperança inatingível é o flagelo do mundo. São essas esperanças que cheiram mal, e nunca serão desespero. Portanto, o perigo é sempre muito maior quando as coisas estão “indo bem” (quando nos entregamos às falsas esperanças que se alimentam de nossa substância real) do que quando as coisas estão “indo mal”.

E é aí que está a boa notícia (o Evangelho): “Alegrai-vos, vós que sofreis, porque tereis a vossa consolação.”

[Michel Random]

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