GURDJIEFF — RELATOS DE BELZEBU A SEU NETO
Principal personagem do livro, inclusive mencionado em seu subtítulo «RELATOS DE BELZEBU A SEU NETO». O grande arco narrativo desta obra, segundo Robin Bloor, é a educação de Hassein, segundo grande personagem do livro, apresentado como neto de Belzebu no Capítulo II. Belzebu assume a educação de seu neto, contando também com a assistência de Ahoon, terceiro personagem importante da narrativa, embora com poucas intervenções.
Gurdjieff explica sua escolha por Belzebu como «o herói do livro» no Capítulo I, deixando claro que conta com o choque mental e o desconforto do leitor por usar um dos nomes do diabo.
[…] decidi fazer o herói principal da primeira série de meus escritos … sabem quem? … o Grande Belzebu Ele mesmo — apesar do fato que esta minha escolha pode desde o começo evocar na mentação da maioria de meus leitores tantas associações mentais quanto deve engendrar neles todas as espécies de impulsos contraditórios automáticos da ação dessa totalidade de dados infalivelmente formada na psique das pessoas devido a todas as condições anormalmente estabelecidas de nossa vida exterior, dados esses que são em geral cristalizados nas pessoas devido à famosa assim chamada «moralidade religiosa» existente e enraizada em suas vidas, e nelas, consequentemente, devem inevitavelmente ser formados dados para uma hostilidade inexplicável dirigida a mim pessoalmente.A intenção de contar com a reação hostil a sua pessoa e obra, de imediato pela promoção de Belzebu a herói, me parece indicar alguns aspectos muito relevantes de seu desejo de cumprir o propósito da primeira série de seus escritos, qual seja segundo o segundo título, «Um criticismo objetivamente imparcial da vida do homem», e segundo o «problema cardeal» que se volta, «destruir, impiedosamente, sem qualquer compromisso que seja, na mentação e sentimentos do leitor, as crenças e visões, enraizadas por séculos nele, sobre tudo existente no mundo».
Com tal propósito e visando a solução de tal «problema cardeal», nada melhor que criar de imediato uma forte tensão entre as crenças subjetivas arraigadas no homem ocidental, cristão, expondo-o ao discurso de um «adversário» tão contundente em nossa imaginação. O leitor que conseguir ir além do capítulo I, constatará já no capítulo II que este Belzebu não é exatamente aquele configurado em sua imaginação por sua «deformação» pseudo-cristã.
O neto ansioso por aprender, especialmente interessado nos entes tricerebrais da Terra, que reverencia seu avô Belzebu e senta em total atenção «aos pés do mestre», é o segundo mais importante personagem do livro.
A etimologia do nome «Hassein» não é clara segundo Robin Bloor. A ideia de que seria uma referência ao neto do Profeta não cabe pois este é Husayn, embora possa ainda se possa supor uma . Bem ao estilo Gurdjieff de composição de palavras e nomes usando termos de diferentes línguas, talvez o nome seja formado pelo adjetivo turco «has», significando «puro» ou «não misturado», ou o verbo em inglês «Has», e a palavra alemã «sein», que quer dizer «ser» ou «essência». Esta última possibilidade parece apropriada, pois denota uma narrativa de Gurdjieff (Belzebu) falando diretamente para nossa essência ou ser (Hassein).
Alguns autores de comentários sobre os Relatos de Belzebu, consideram que o livro foi destinado para ser definitivamente adotado e apreendido pelo «filhos dos filhos de Gurdjieff», ou seja, pelos «netos», pela segunda geração daqueles primeiros estudantes ou seguidores de G, que conviveram com o mestre.
Ahoon é descrito como um «velho devoto servidor» de Belzebu. Ele acompanha Belzebu por toda parte e quando ele fala usa o mesmo estilo do mestre, como se Belzebu ele mesmo estivesse falando. Ao longo do texto percebe-se que seus apartes não são muito brilhantes, mas que é chamado a recordar eventos vividos em companhia de seu mestre. A questão nesta obra iniciática é saber quem representa Ahoon em cada um de nós, assim como Belzebu e Hassein.