Schumacher (Guide:29-30) – Progressões entre níveis de ser (2)

A progressão da passividade para a atividade é semelhante e intimamente relacionada à progressão da necessidade para a liberdade. É fácil ver que no nível mineral não há nada além de necessidade. A matéria inanimada não pode ser diferente do que é; não tem escolha, não tem possibilidade de “desenvolver-se” ou de alguma forma mudar sua natureza. A chamada indeterminação ao nível das partículas nucleares é simplesmente outra manifestação da necessidade, porque a necessidade total significa a ausência de qualquer princípio criativo. Como já disse em outro lugar, é análogo à dimensão zero — uma espécie de nada onde nada resta para ser determinado. A “liberdade” da indeterminação é, de fato, o extremo oposto da liberdade: um tipo de necessidade que só pode ser entendida em termos de probabilidade estatística. No nível da matéria inanimada, não há “espaço interior” onde quaisquer poderes autônomos possam ser organizados. Como veremos, o “espaço interior” é o cenário da liberdade.

Sabemos pouco, se é que sabemos alguma coisa, sobre o “espaço interior” das plantas, mais sobre o dos animais, e muito sobre o “espaço interior” do ser humano: o espaço da pessoa, da criatividade, da liberdade. O espaço interior é criado pelos poderes da vida, consciência e autoconsciência; mas temos experiência direta e pessoal apenas de nosso próprio “espaço interior” e da liberdade que ele nos proporciona. Uma observação atenta revela que a maioria de nós, na maior parte do tempo, se comporta e age mecanicamente, como máquinas. O específico poder humano de autoconsciência está adormecido, e o ser humano, como um animal, age — mais ou menos inteligentemente — apenas em resposta a várias influências. Somente quando um homem faz uso de seu poder de autoconsciência ele atinge o nível de pessoa, o nível de liberdade. Nesse momento ele está vivendo, não sendo vivido. Numerosas forças de necessidade, acumuladas no passado, ainda determinam suas ações, mas uma pequena mossa está sendo feita, uma pequena mudança de direção está sendo introduzida. Pode ser praticamente imperceptível, mas muitos momentos de autoconsciência podem produzir muitas dessas mudanças e até mesmo transformar um determinado movimento na direção oposta de sua direção anterior.

Perguntar se o ser humano tem liberdade é como perguntar se o homem é milionário. Ele não é, mas pode se tornar um milionário. Ele pode ter como objetivo tornar-se rico; da mesma forma, ele pode ter como objetivo tornar-se livre. Em seu “espaço interior” ele pode desenvolver um centro de força para que o poder de sua liberdade exceda o de sua necessidade. É possível imaginar um Ser perfeito que esteja sempre e invariavelmente exercendo Seu poder de autoconsciência, que é o poder da liberdade, no grau máximo, indiferente a qualquer necessidade. Este seria um Ser Divino, um poder onipotente e soberano, uma Unidade perfeita.

[E. F. Schumacher]

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