Excertos traduzidos de «The Search for Things that are True».
Certas vezes no correr do dia, venho a mim. Como se acordasse de repente. «Aqui estou», mais ou menos intensamente. Então sem me dar conta disto, rapidamente afundo neste estado ambíguo — “estado desperto paradoxal” poderíamos chamar (em contraste com o propalado “sono paradoxal”) no qual não estou nem completamente desperto nem profundamente adormecido. Inevitavelmente, confundo estas experiências flutuantes com meu estado normal, como se fossem perdurar, enquanto de fato um automatismo prontamente toma conta e lida de uma maneira mais ou menos aceitável com os requisitos funcionais de minha existência diária. Lutando para estar aí, ciente de minha própria presença, enquanto tudo se move dentro de mim assim como fora, meu poder de atenção, apesar de bem treinado para outras tarefas, é de pronto sacado desta percepção íntima pelas ondas de associação. Mais e mais, posso tentar assumir o desafio e reiniciar esta busca privada por autenticidade, que ninguém na terra pode jamais assumir por mim. E no entanto, tentando, falhando, e tentando de novo, venho a um ponto onde me dou conta quanto estou em necessidade de ajuda. E a ajuda aí está. Sou tão cego e surdo que a ignoro? Ela oferece a si mesma em muitos disfarces — testemunhas de todas as espécies, livros sagrados, caminhos espirituais, ascetismo budista. Em meu próprio esforço para concentração a ajuda é também oferecida pela natureza ela mesma — onde quer que eu possa permanecer permeável às profundas impressões reveladoras que ela jamais cessa de prover. Portanto minha única preocupação deveria ser tentar permanecer atento ao chamado sem palavras daquilo que está sempre aí esperando reconhecimento. Re-conhecimento. Isto pode provar ser a chave, não tentar “alcançar” mas retornar ao que é. «Lembrar-me de mim mesmo» na linguagem de Gurdjieff, que significa retornar ao meu ser real. «A Vida é real só então, quando Eu sou». O que implica que o que chamamos “vida” é totalmente irreal — assim como o que chamamos «Eu»… «Despertar, morrer, nascer», que agora se lê: despertar deste chamado estado desperto; morrer às reações equivocadas que usualmente são confundimos como “vida”; e nascer de novo às potencialidades superiores de ser, evidência das intenções reais por trás de nossa presença na terra. Se um homem prova ser capaz de conquistar suas expectativas de recompensa por suas realizações, ele pode até vir a conjecturar se a vida não foi doada a ele justo para este desafio: aceitar e desempenhar sua parte no mistério com seus olhos abertos, como só homens podem fazer, através de uma vida de «trabalhos conscientes e sofrimentos intencionais».
É um mistério que tenho que respeitar e tenho que curvar a sua evidência. Como despertar a isso? Penso que há espaço para se abrir para o grande milagre da natureza ela mesma. Se sou movido pela visão e percepção da natureza — olhando ao céu, à árvore ou qualquer fenômeno natural — posso olhar ao corpo com a mesma surpresa e gratidão. Então, me é dado perceber algo que em si mesmo é tão grande: é uma chamada, e posso ouvi-la.
Despertar não é conquistar um estado de consciência superior. É um movimento, repetidamente tentado e repetidamente negado, um retorno à consciência de o que é. Mesmo o mais fugaz brilho de consciência carrega a promessa de uma participação em Tudo que Existe… Despertar implica uma ruptura na corrente de continuidade, uma mudança de níveis, um intervalo entre dois estados completamente diferentes. Um choque é necessário para garantir a passagem de um estado para o outro.
Qual o princípio deste método? HT: É o despertar à realidade, usualmente oculta, reconhecida como sendo dotada com uma presença potencial, latente, apesar de nossa dificuldade em percebê-la e ainda mais em fazê-la manifesta. Há uma chave para pôr este ensinamento em prática. «Lembrança de si mesmo». Se nos dispomos a definir esta ideia de uma vez por todas, só podemos traí-la. Lembrança de si mesmo tem um aspecto que é quase inexpressável porque está tão secretamente, tão intimamente experienciado por cada um para que seja capaz de falar sobre ela, propô-la.