Em contraste com o naturalismo está o ponto de vista mais antigo que coloca o homem em um universo criado, parte visível e parte invisível, parte no tempo e parte fora do tempo. O universo, como o vemos, é apenas um aspecto da realidade total. O homem, como criatura de sentidos, conhece apenas as aparências e estuda apenas as aparências. O universo não é apenas uma experiência sensorial, mas também uma experiência interior, ou seja, há uma verdade interior e uma verdade exterior. O universo é tanto visível quanto invisível. No lado visível (o terceiro termo) está o mundo dos fatos. No lado invisível (o primeiro termo) está o mundo das ideias.
O próprio homem se situa entre os lados visível e invisível do universo, relacionando-se com um por meio de seus sentidos e com o outro por meio de sua natureza interior. Em um determinado ponto, o lado exterior e visível do universo deixa de existir, por assim dizer, e passa para o homem como experiência interior. Em outras palavras, o homem é uma certa proporção entre o visível e o invisível.
Por causa disso, a cena exterior não o completa e nenhuma melhoria exterior das condições de vida jamais o satisfará de fato. O homem tem necessidades interiores. Sua vida emocional não é satisfeita por coisas exteriores. Sua organização não deve ser explicada apenas em termos de adaptação à vida exterior. Ele precisa de ideias para dar sentido à sua existência. Há algo nele que pode crescer e se desenvolver – algum outro estado de si mesmo – que não está no “amanhã”, mas acima dele. Há um tipo de conhecimento que pode mudá-lo, um conhecimento de qualidade bem diferente daquele que se preocupa com fatos relacionados ao mundo fenomenal, um conhecimento que muda suas atitudes e compreensão, que pode trabalhar nele interiormente e trazer os elementos discordantes de sua natureza para a harmonia.
Em muitas das filosofias antigas, essa é considerada a principal tarefa do homem – sua verdadeira tarefa. Por meio do crescimento interior, o homem encontra a verdadeira solução para suas dificuldades. É necessário entender que a direção desse crescimento não é para fora, nos negócios, na ciência ou em atividades exteriores, mas para dentro, na direção do conhecimento de si mesmo, por meio do qual ocorre uma mudança de consciência. Enquanto o homem estiver voltado apenas para fora, enquanto suas crenças o direcionarem para o sentido como o único critério do “real”, enquanto ele acreditar apenas nas aparências, ele não poderá mudar em si mesmo.
Ele não pode crescer nesse sentido interior. Por meio do ponto de vista do naturalismo, ele se isola de todas as possibilidades de mudança interior. Ele precisa se relacionar com o “mundo das ideias” antes de começar a crescer. Ou seja, ele deve sentir que há mais no universo do que aquilo que é aparente aos sentidos. Ele deve sentir que outros sentidos são possíveis, outras interpretações, pois somente dessa forma sua mente pode se tornar “aberta”. Ele deve ter tido a sensação de algo mais. Ele deve ter se perguntado o que ele é, o que a vida pode significar, o que sua existência significa. Certos tipos de questionamentos devem ter ocorrido em sua alma. O sentido da existência é mais do que parece ser? Vive-se em algo maior do que os sentidos revelam? Todos os problemas são apenas problemas exteriores? O conhecimento sobre o mundo exterior é o único conhecimento possível?
[Maurice Nicoll, Living Time]