Nicoll (Time) – naturalismo

Mencionei que o naturalismo enfatiza o terceiro termo como causa. Por esse prisma, tendemos a ver tudo como quantidade e arranjo material em vez de qualidade, significado ou ideia. A ênfase está em um lado — no lado externo, extenso, dado pelos sentidos do universo. Ela corresponde a uma atitude que todos devem conhecer e reconhecer em si mesmos. O mundo é como o vemos e, de uma forma ou de outra, ele é derivado de si mesmo. De uma forma ou de outra, os átomos que o compõem se encaixaram em determinados arranjos e, de uma forma ou de outra, surgiram massas visíveis de matéria, bem como criaturas vivas.

O que o naturalismo nos tira? Ele leva, é claro, a uma visão um tanto morta das coisas. Em suas formas extremas, ele considera que vivemos em um universo gigantesco e mecânico, um maquinário sem sentido de planetas e sóis, no qual o homem apareceu acidentalmente como um grãozinho de vida, insignificante e efêmero. Enfatizando apenas o terceiro termo, essa visão é suficientemente verdadeira. Isso significa que, se o homem quiser melhorar sua vida, ele deve lidar apenas com o mundo externo e visível. Não há nada “real” além do que o homem pode alcançar por meio de seus sentidos. Portanto, o homem deve inventar e construir novas máquinas e acumular o maior número possível de fatos sobre o mundo visível e começar a “conquistar a natureza”.

Esse ponto de vista vira o homem para fora. Faz com que ele veja seu campo de atividades apenas fora de si mesmo. Isso o faz pensar que, ao descobrir alguns fatos novos sobre o universo material, ele será capaz de aliviar sua própria tristeza e dor. Atualmente, há um notável giro da humanidade para fora, ligada aos desenvolvimentos científicos, e uma expectativa cada vez mais difundida de que novas descobertas e invenções resolverão os problemas do homem. A atitude do materialismo científico, que caracterizou especialmente a última parte do século XIX, alcançou as massas. Ela também chegou ao Oriente.

A humanidade agora vê a solução de suas dificuldades em algo fora de si mesma. E com essa atitude, inevitavelmente, vem a crença nas organizações de massa dos povos e a correspondente perda do senso interno de existência, o apagamento das diferenças individuais e a obliteração gradual de toda a rica diversidade de costumes e distinções locais que pertencem à vida normal. O mundo se torna cada vez menor à medida que se torna mais e mais uniforme. As pessoas perdem o poder de qualquer sabedoria separada. Em seu lugar, elas imitam umas às outras cada vez mais. E é exatamente isso que torna possível a organização em massa. Junto com isso, vem a conexão do mundo por meio de trânsito rápido e comunicação sem fio, de modo que o mundo inteiro responde de forma anormal a um único estímulo local.

E acima de tudo isso paira a estranha quimera que parece brilhar na imaginação de toda a humanidade hoje, a fantasia de que a ciência descobrirá algum segredo, alguma solução, que livrará a Terra de sua brutalidade e injustiça e restaurará a Era de Ouro. Essa ideia, de que podemos descobrir soluções finais para as dificuldades da vida e que a humanidade como um todo pode alcançar a “verdade” em alguma data futura, ignora o fato de que cada pessoa que vem ao mundo é um novo ponto de partida. Cada pessoa deve descobrir por si mesma tudo o que já foi descoberto antes. Cada pessoa deve encontrar a verdade por si mesma. Além disso, o que podemos ver hoje como resultado da crença do homem de que ele pode organizar a vida meramente por meio do conhecimento científico?

[Maurice Nicoll, Living Time]

 

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